Wednesday, October 12, 2005

Mestre Zum

O dia começara claro. A praia, bonita.
O meu trabalho diário é com pescadores e como tal, sempre que me é possibilitado, vou ao encontro deles.
Há um mestre que tem a fama de rebelde, duro e vil. O Mestre Zum.
Eu só vim a sentir isto na pele, quando um dia calhou a vez de ir falar com ele. O local era um café, perto da praia onde os barcos são içados para terra. Os pescadores juntam-se aí, ao meio do dia, bebendo e comendo pra descansar do mar.
Ora, eu e ele disputaríamos uma injusta batalha. Eu pequena mulher de descontracção algarvia, ele corpulenta figura chateado com o mundo. Lembro do café quase vazio, lembro das poucas pessoas que me olhavam de modo hostil, lembro do som daquela voz a vibrar no café todo, lembro dos olhos a raiar de fúria e do esbracejar grande que acompanhava com as palavras, lembro que disse umas belas verdades, lembro que houve uma altura que me enfureci também e que também respondi à letra e falei das injustiças que havia em todos os trabalhos e falei na importância da comunicação e falei do meu trabalho e falei que precisava dos pescadores e falei que nunca se punha tudo no mesmo saco, que nunca uma pessoa simbolizava toda a merda feita pelas entidades oficiais.... e falei de tudo para não me sentir pequena e impotente, pra não chorar de nervosismo. Depois parti, dizendo que iria pregar pra outra freguesia, continuar o meu trabalho, visto o Mesmtre Zum se ter negado a me ajudar.
Saí do café desfeita, mas a sorrir. Fui para a praia, agora mais feia. Senti-me um cócó nesse preciso momento. Queria falar com mais pescadores, mas o Mestre Zum deixara-me sem pio.
Olhei o mar, e pareceu-me ouvir "oh menina!". Olhava o mar e ouvi de novo "OH MENINA!". O som vinha por trás de mim. Deixei de olhar o mar. Atrás de mim e á frente do mar, estava o mestre Zum, que me disse "Então vá, diga lá o que é, que eu ajudo-a. É que eu também tenho uma filha, sabe?". Apetecia-me abraçá-lo, mas simplesmente agradeci e com um sorriso de orelha a orelha, fiz o meu trabalho.
O dia continuou claro e a praia mais bonita.

História vivida e romanceada por Gamba da Costa.

3 Comments:

At October 13, 2005 11:23 am, Blogger Martina Gamba Tanga Cardamomos said...

:) até respirei melhor
hehe

 
At October 13, 2005 5:40 pm, Anonymous Anonymous said...

Também já tive de enfrentar alguns Mestres Zum!Sei a sensação que descreves ... o sentimento de frustação! Mas tb constatei que os mestres Zum que andam por ai são todos iguais... na primeira abordagem rispidos e maus (talvez para assustar!), mas depois com atitudes de gente que tem um coração enorme :)!
Que bom é trabalhar com esta gente do mar ;)

 
At October 14, 2005 2:49 pm, Blogger anges said...

é um homem que é duro por causa da vida e no fundo tem um coração grandeeeeeeeeeeeeeeeeeee

 

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